Entendendo e atendendo às necessidades emocionais

Entender e atender às necessidades emocionais é crucial para evitar relacionamentos amorosos que são emocionalmente desgastantes. Se as pessoas não estão cientes de suas necessidades, tendem a entrar em relações que mais prejudicam do que ajudam. Reconhecer e buscar relacionamentos saudáveis é um passo fundamental para se aproximar daquilo que é essencial para o bem-estar emocional, apesar de sabermos que isso pode ser um desafio.

A metáfora do barco é usada para ilustrar a importância de conhecer a própria rota emocional, semelhante a um barco que deve saber onde está navegando para evitar um naufrágio. Da mesma forma, sem um conhecimento claro de suas necessidades emocionais, uma pessoa pode acabar em relacionamentos que a deixam emocionalmente desgastada.

Escolher relacionamentos saudáveis é mais do que simplesmente selecionar um parceiro; é sobre estar e sentir-se alinhado e coerente em um relacionamento saudável. O desafio está em identificar profundamente o que foi incoerente ao longo da vida em relação às necessidades emocionais não atendidas. Muitas vezes, as pessoas podem, sem plena consciência, considerar a escassez emocional como normal, simplesmente porque é o que experimentaram durante a vida. Este é um padrão conhecido que, embora familiar, é incoerente com um desenvolvimento emocional saudável.

O exercício de introspecção envolve um checklist de necessidades emocionais básicas essenciais para a nutrição emocional e desenvolvimento pessoal. O checklist inclui ter vínculos seguros com cuidadores que fornecem segurança e proteção, ter um ambiente emocionalmente conectado onde as emoções podem ser expressas e acolhidas, e ser aceito por quem a pessoa realmente é. Também abrange ter limites afetivos adequados, momentos de lazer e brincadeiras, e a orientação e instruções necessárias durante a infância e adolescência.

Adicionalmente, o checklist questiona se as necessidades físicas, como alimentação e cuidados básicos, foram atendidas, se houve incentivo à autonomia e independência, e se existiu um ambiente que permitiu ao indivíduo ver-se diferente de seus cuidadores. A pessoa deveria saber que era amada por ser quem era, sem necessidade de fazer algo para ganhar amor. Além disso, os cuidadores deveriam dedicar tempo de qualidade e corrigir os erros com afeto, sem violência.

Ao revisar essas necessidades, é importante considerar quais delas continuam não sendo atendidas em relacionamentos atuais. O primeiro passo para mudar padrões prejudiciais é compreender claramente o que se precisa e o que não foi recebido durante a vida. Muitas vezes, sem perceber, as pessoas escolhem repetir os mesmos padrões insatisfatórios, tentando viver de forma diferente o que já viveram, numa tentativa de mudar as experiências passadas.

No entanto, repetir esses padrões antigos não trará novos resultados; apenas perpetuará o ciclo de desconexão e sofrimento. Portanto, é fundamental reconhecer que ninguém merece viver em desconexão e que é possível quebrar esses padrões para estabelecer relações verdadeiramente saudáveis e enriquecedoras.

Este processo de identificação e mudança de padrões emocionais exige um compromisso profundo com o autoconhecimento e a mudança pessoal. Através de uma exploração cuidadosa e honesta das próprias necessidades emocionais, pode-se começar a escolher relacionamentos que sejam nutridores, suportivos e alinhados com o que é verdadeiramente necessário para o desenvolvimento emocional saudável.

O artigo aborda estratégias para gerenciar e entender a dinâmica emocional em relacionamentos, seja para aqueles que não estão atualmente em um relacionamento mas desejam estabelecer conexões saudáveis no futuro, ou para aqueles que já estão em relacionamentos e buscam melhorar a qualidade emocional dessas relações. O foco é compreender como superar a química de relacionamentos passados que podem ter sido prejudiciais e como evitar repetir esses padrões no futuro.

Primeiro Cenário: “Não estou em um relacionamento, mas quero relações saudáveis no futuro”

Neste cenário, é crucial identificar os gatilhos que ativam respostas emocionais negativas baseadas em experiências passadas. Estes gatilhos são frequentemente características ou comportamentos específicos em outras pessoas que podem despertar sensações desconfortáveis devido a experiências dolorosas passadas. Por exemplo, certas expressões faciais ou maneiras de agir podem ser indicativos de potenciais problemas futuros, porque estão alinhados com padrões antigos que causaram sofrimento. Estar ciente desses gatilhos pode ajudar a pessoa a evitar escolher parceiros que provavelmente trarão sofrimento, apesar da forte atração inicial.

Sugere-se um exercício de introspecção onde se deve fechar os olhos e relembrar o último relacionamento baseado em química esquemática — uma atração baseada em padrões emocionais passados. Refletir sobre como foi essa relação, as características da pessoa que atraíram, os gatilhos emocionais não atendidos, e o que era necessário receber nessa relação. Depois, é recomendado apagar essas memórias, focando somente nas necessidades emocionais que não foram atendidas, as quais devem ser priorizadas ao buscar novos relacionamentos.

Armadilhas da Química Amorosa

Segundo Cenário: “Já estou em um relacionamento e quero que ele seja mais nutritivo emocionalmente”

Para aqueles já em relacionamentos, a chave é diferenciar o presente do passado. Muitas vezes, há uma tendência humana de repetir padrões conhecidos, o que pode levar a uma atração intensa por pessoas que recriam feridas emocionais antigas. Destaca-se a importância de tomar consciência desses padrões e fazer escolhas diferentes para não cair nas mesmas armadilhas que perpetuam o sofrimento.

Um exercício proposto envolve lembrar-se de uma pessoa que demonstrou interesse afetivo e atendeu às necessidades emocionais básicas, como atenção, afeto e presença. Refletir sobre como foi o contato com essa pessoa e o que foi sentido. Caso essa relação não tenha progredido, ponderar sobre os motivos que levaram a não continuar com ela. Este exercício ajuda a pessoa a reconhecer oportunidades onde as necessidades emocionais poderiam ter sido atendidas, mas talvez não tenham sido por causa de antigas inclinações a padrões menos saudáveis.

Serve como um guia para entender melhor as próprias necessidades emocionais e como estas influenciam a escolha de parceiros e a qualidade dos relacionamentos. Encoraja a fazer uma autoanálise profunda para evitar repetir erros passados e a escolher parceiros que realmente atendam às suas necessidades emocionais, promovendo relações mais saudáveis e nutritivas. Ao se tornar consciente dos padrões passados e dos gatilhos emocionais, torna-se possível estabelecer relações futuras mais gratificantes e evitar as armadilhas de relações baseadas puramente em química intensa, mas ultimamente prejudiciais.

Entenda os comportamentos que alimentam a química

Quando analisamos as dinâmicas emocionais em relacionamentos e a maneira como lidamos com nossos padrões emocionais, observamos uma variedade de estratégias comportamentais que empregamos, muitas vezes sem nos darmos conta. Essas estratégias são frequentemente adotadas para aliviar emoções desconfortáveis que surgem de padrões emocionais persistentes, conhecidos como esquemas. No entanto, essas estratégias também podem ser contraproducentes, pois muitas vezes acabam por reforçar nossos esquemas e perpetuar padrões destrutivos em nossas interações e relacionamentos.

Uma das principais estratégias utilizadas é o comportamento evitativo. Esse tipo de comportamento pode parecer benéfico à primeira vista, pois evita o desconforto imediato, mas a longo prazo, pode alimentar a química esquemática de privação emocional. Por exemplo, imagine uma pessoa que se sente carente de atenção e cuidado emocional. Se essa pessoa evitar engajar em conversas profundas com alguém que parece muito atencioso e disponível, ela está reforçando seu próprio esquema de privação emocional. Outro exemplo de comportamento evitativo ocorre quando alguém, que possui um esquema de defectividade ou vergonha, muda o rumo de uma conversa ao receber um elogio. Tais comportamentos evitam que a pessoa experimente novas sensações que poderiam ser benéficas, devido ao desconforto inicial que eles provocam.

Além dos comportamentos evitativos, há também os comportamentos resignados, que são aqueles em que a pessoa segue a direção do esquema, sem tentar alterá-lo. Esses comportamentos também nutrem a química esquemática e sabotam a satisfação emocional do indivíduo. Exemplos típicos incluem escolher parceiros que reforcem o esquema pessoal, não expressar necessidades emocionais, ou mesmo acreditar que não há mais esperança e que o destino é terminar sozinho. Esses comportamentos resignados são uma forma de aceitação passiva dos esquemas, sem tentativa de mudança ou melhoria.

Outra estratégia comum são os comportamentos hipercompensatórios. Esses comportamentos são tentativas de satisfazer intensamente as necessidades emocionais não atendidas, mas muitas vezes resultam em afastar as outras pessoas. Por exemplo, uma pessoa com um esquema de abandono pode reagir de maneira exagerada a uma falta de resposta imediata de um interesse amoroso, enviando várias mensagens consecutivas para obter algum tipo de validação ou resposta. Da mesma forma, se alguém se sente ofendido por algo que seu parceiro disse, ao invés de tentar resolver a situação de maneira assertiva e calma, pode responder de maneira agressiva ou adotar uma postura de indiferença e distanciamento como forma de punição.

Essas estratégias, embora diferentes em sua natureza, compartilham um objetivo comum: tentar lidar com as dores emocionais profundas que os esquemas provocam. No entanto, o desafio está em reconhecer que, enquanto essas estratégias podem oferecer alívio temporário, elas não resolvem os problemas subjacentes e, muitas vezes, acabam reforçando os esquemas que tentam mitigar. Isso cria um ciclo de comportamento que pode ser difícil de quebrar sem uma conscientização e esforços conscientes para desenvolver novas maneiras de lidar com as emoções e interações.

Armadilhas da Química Amorosa

Armadilhas da Química Amorosa

Para romper com esses padrões destrutivos, é fundamental primeiro reconhecer e entender os próprios esquemas. A partir daí, pode-se trabalhar no desenvolvimento de estratégias mais saudáveis e construtivas para lidar com as emoções e relações. Isso pode incluir a prática de mindfulness para estar mais presente e consciente dos gatilhos emocionais, aprender técnicas de comunicação assertiva para expressar necessidades e sentimentos de maneira eficaz, e trabalhar com um terapeuta ou conselheiro para explorar e resolver as questões emocionais mais profundas.

Ao substituir comportamentos evitativos, resignados e hipercompensatórios por estratégias mais adaptativas e conscientes, as pessoas podem começar a formar relações mais saudáveis e satisfatórias. Esse processo não é fácil e exige tempo e dedicação, mas os benefícios de desenvolver relações mais ricas e emocionalmente nutritivas são significativos. Essa mudança de paradigma não apenas melhora a qualidade das relações interpessoais, mas também contribui para o bem-estar emocional e psicológico geral, permitindo que as pessoas vivenciem uma vida mais plena e gratificante.

Modifique a dinâmica que favorece a química

Ao examinar as dinâmicas de relacionamentos intensos, torna-se claro que a química pode tanto enriquecer quanto prejudicar uma relação. A química intensa, embora muitas vezes irresistível, pode levar a escolhas irracionais que não atendem às verdadeiras necessidades emocionais de uma pessoa. Em situações onde a química é forte, mas traz mais prejuízo do que benefício, é importante lembrar que é possível escolher outro caminho. Afinal, a intensidade dessa química tende a diminuir com o tempo e o afastamento.

Para aqueles que já estão em um relacionamento e sentem que podem ter caído nas armadilhas da química intensa, é fundamental identificar os gatilhos que ativam os esquemas emocionais prejudiciais. Reconhecer esses gatilhos é o primeiro passo para transformar a relação em algo mais saudável e mutuamente satisfatório. Um exercício útil nesse sentido envolve refletir sobre os momentos em que as dores emocionais são ativadas durante o relacionamento. Perguntar-se sobre o que ocorre no dia a dia que poderia ser feito de forma diferente é uma maneira de iniciar essa reflexão.

Além disso, é importante considerar como as necessidades emocionais podem ser melhor atendidas por cada parceiro. A comunicação entre o casal desempenha um papel crucial nesse processo. Frequentemente, quando os desafios da relação começam a se acumular, algumas pessoas podem recorrer à agressividade e à hostilidade na forma de se comunicar, o que apenas adiciona ruídos e dificuldades à conexão já existente.

Portanto, uma comunicação eficaz deve envolver compreensão, validação e uma abordagem cuidadosa, evitando a agressividade. Uma técnica útil para melhorar a comunicação é se colocar no lugar do outro e perguntar-se: “Como eu gostaria de ser tratado se estivesse do outro lado?” Esta pergunta pode ajudar a refletir sobre a forma de falar e interagir com o parceiro.

A chave para transformar um relacionamento que está sob a influência de uma química desafiadora é o comprometimento mútuo para melhorar a qualidade da relação. Trabalhar juntos para superar os gatilhos de ativação esquemática e focar em satisfazer as necessidades emocionais um do outro pode levar a resultados significativamente mais positivos para ambos os parceiros.

Em resumo, entender e modificar a dinâmica que favorece a química em um relacionamento é essencial para garantir que as relações sejam saudáveis e enriquecedoras. Isso envolve uma análise cuidadosa das próprias necessidades emocionais, uma comunicação eficaz e empática, e um esforço conjunto para superar os desafios e armadilhas que a química intensa pode trazer. Ao fazer isso, os indivíduos podem garantir que suas relações são construídas sobre bases sólidas de respeito mútuo e compreensão genuína, levando a uma conexão mais profunda e duradoura.

Referência bibliográfica
Cardoso, Bruno Luiz Avelino; Paim, Kelly. Armadilhas da química amorosa: aprenda com a terapia do esquema a identificá-las e encontre relacionamentos saudáveis. Porto Alegre: Artmed, 2024. E-pub. ISBN 978-65-5882-178-6.