Há muitas concepções errôneas sobre o amor romântico, muitas vezes alimentadas por contos de fadas e comédias românticas que prometem um “felizes para sempre”. Essa idealização pode levar as pessoas a buscar um parceiro que preencha todas as suas lacunas emocionais e as faça sentir seguras e amadas, um conceito que não reflete a realidade dos relacionamentos saudáveis e interdependentes.
Os relacionamentos reais exigem que ambos os parceiros tenham uma boa dose de autoconhecimento e uma compreensão madura do que significa amar alguém. Isso inclui reconhecer que a felicidade em um relacionamento íntimo não vem apenas da outra pessoa, mas de uma conexão profunda consigo mesmo e com o que verdadeiramente se espera de uma relação.
Essa busca por um amor de conto de fadas muitas vezes é uma tentativa de escapar da solidão e do medo, um reflexo de uma cultura que glorifica o matrimônio como a solução para todos os problemas pessoais. No entanto, a realidade mostra que o casamento, uma união legal, raramente garante felicidade ou segurança emocional, pois esses sentimentos devem vir de um entendimento interno e do desenvolvimento pessoal.
Muitos entram no casamento com motivações equivocadas, como o desejo de ter filhos, o medo de envelhecer sozinho ou a pressão social, sem considerar se a relação é verdadeiramente saudável ou não. Frequentemente, essas decisões precipitadas são motivadas pelo medo e pela insegurança, e não raro, as pessoas reconhecem, após algum tempo, que ignoraram vários sinais de que a relação não era adequada.
A crença de que o casamento é a chave para o amor eterno é outro mito que precisa ser desfeito. Com quase metade dos casamentos terminando em divórcio, fica claro que nem todas as relações são feitas para durar. As relações devem ser vistas como oportunidades de aprendizado e crescimento pessoal, e não como garantias de felicidade eterna.
O verdadeiro indicador de um relacionamento saudável não deve ser o casamento em si, mas o quanto cada parceiro cresce e evolui dentro da relação. Isso envolve sentir-se seguro o suficiente para passar algum tempo sozinho, desenvolvendo recursos internos e sociais, e retornando à relação com uma nova energia. Essa abordagem promove uma interdependência saudável, em vez de uma co-dependência que muitas vezes é mascarada como romance.
A sociedade poderia beneficiar-se ao celebrar relações que promovem o crescimento mútuo e a segurança, em vez de perpetuar o mito de que o casamento é um fim em si mesmo. Quando as pessoas encontram um verdadeiro “lar” dentro de si mesmas e se comprometem com alguém que aceita suas falhas e compreende suas necessidades, elas estão em uma posição muito melhor para construir um lar externo juntos.
Nesse contexto, os votos matrimoniais e as cerimônias de casamento são apenas complementos de uma relação já enriquecedora e comprometida. O que realmente importa é o compromisso diário com o apoio mútuo e o desenvolvimento contínuo da relação, que proporciona um sentido real de segurança e aceitação. Este entendimento pode transformar profundamente a forma como as pessoas veem e vivem seus relacionamentos, levando a uma vida compartilhada mais gratificante e autêntica.
A ANSIEDADE E A DÁDIVA DA EMPATIA
Quando nos apaixonamos, surge a expectativa de entrar em sincronia com o parceiro, formando uma unidade sinérgica. Nos relacionamentos íntimos, ficamos ligados aos nossos parceiros por um “cordão de energia” e neurônios espelhos, compartilhando sentimentos, estados de espírito, pensamentos e ações. Isso significa que podemos nos sentir tensos quando o parceiro está nervoso, ou rir quando ele ri. Essa é uma manifestação da nossa capacidade de empatia, que é crucial para a ligação emocional com os parceiros.
A empatia é a habilidade de sentir o que o outro está sentindo, tão profundamente que podemos captar e sentir a energia e os estados de ânimo do outro. Essa sensibilidade pode ser uma bênção, pois é assim que nos conectamos e cuidamos uns dos outros, tornando-nos bons amigos e companheiros compassivos. No entanto, essa mesma sensibilidade pode se tornar um fardo se não for gerenciada corretamente. Sem limites adequados, podemos perder de vista quais sentimentos são nossos e quais pertencem ao parceiro, nos absorvendo tanto que esquecemos de nossas próprias emoções.
Crianças com apego ansioso se tornam muito sensíveis aos outros para se sentirem o máximo possível conectadas. Essa hiperconsciência em relação aos sentimentos dos pais foi uma adaptação à inconsistência deles durante a infância. Naturalmente, ao nos conectarmos com novas pessoas na idade adulta, podemos reagir da mesma maneira que aprendemos quando crianças. A habilidade de avaliar o estado emocional do parceiro torna-se uma forma de proteção contra o abandono.
Ser “ególatra” não significa eliminar nossa capacidade de empatia, mas sim aprender a cuidar também de nossas próprias necessidades, prestando-lhes atenção antes de nos doarmos a partir de uma posição de plenitude. Quando entramos em um relacionamento a partir de uma posição de insegurança e medo, podemos nos inundar com o desejo de saber tudo sobre a pessoa por quem estamos apaixonados. Isso pode nos sobrecarregar com informações sobre o outro, tornando difícil acessar nossos próprios sentimentos e reconhecer nossas necessidades.
É possível aprender a trabalhar com nossa natureza sensível e empática. Com prática e trabalho terapêutico, podemos amar plenamente outra pessoa enquanto mantemos limites claros. Isso significa entender que nossas necessidades são distintas das do parceiro e que expressá-las é crucial para manter o equilíbrio. Ao aprender que os relacionamentos são um lugar seguro para compartilhar e atender às necessidades, tanto próprias quanto alheias, podemos navegar na conexão profunda que surge da nossa sensibilidade aos sentimentos dos outros, o que também pode levar a um amor mais universal.
O processo começa com o estabelecimento de uma ligação inabalável com nosso mundo interno. Quando estamos alinhados conosco mesmos, podemos alternar o foco entre nossas necessidades e as do parceiro. Sabemos instintivamente quando investir no relacionamento ou quando recuar para recarregar nossas energias. Tornar-se “ególatra” também significa aprender qual tipo de relacionamento buscar: um que nos ajude a aprender a confiar, a sentir apoio e a curar.
Independentemente de estar ou não em um relacionamento romântico, é crucial encontrar suporte emocionalmente disponível, seja com um terapeuta, amigo ou grupo de apoio. Esses recursos podem oferecer um respaldo externo enquanto realizamos o trabalho interno. É importante pensar em quem, no passado ou presente, pode oferecer esse apoio acrítico e incondicional e considerar procurar essa pessoa quando necessário para discutir a experiência enquanto atravessa o processo de cura e transformação interior.
ESTÁ TUDO BEM!
Ao nos apaixonarmos, muitos de nós esperamos sincronizar perfeitamente com nossos parceiros, transformando dois indivíduos em uma unidade sinérgica que compartilha sentimentos, pensamentos e ações. Essa expectativa é frequentemente influenciada por uma compreensão cultural do amor romântico, que enfatiza uma conexão quase mística entre os amantes. No entanto, a realidade dos relacionamentos é geralmente mais complexa e desafiadora do que essas idealizações.
A empatia, que permite a alguém sentir o que o parceiro está sentindo, é uma habilidade vital para a conexão emocional em um relacionamento. Ela nos permite cuidar um do outro e ser bons amigos ou parceiros. No entanto, essa sensibilidade também pode ser um fardo se não for gerenciada adequadamente. Sem limites claros, podemos nos perder nos sentimentos do outro e esquecer de nos sintonizar com nossos próprios sentimentos e necessidades.
As pessoas com apego ansioso, por exemplo, muitas vezes se tornam excessivamente sensíveis aos outros. Elas desenvolvem essa hiperconsciência como uma forma de lidar com a inconsistência emocional de seus cuidadores na infância. Isso se manifesta em relacionamentos adultos como uma tendência a reagir intensamente aos estados emocionais do parceiro, o que pode ser uma forma de proteção contra o abandono. No entanto, isso pode levar a um ciclo de ansiedade e dependência emocional que prejudica a relação.
Ser “ególatra” não significa ignorar a capacidade de empatia ou sensibilidade. Em vez disso, significa aprender a cuidar de suas próprias necessidades emocionais e físicas antes de se doar aos outros. Entrar em um relacionamento a partir de uma postura de medo e insegurança muitas vezes resulta em uma obsessão com o bem-estar do parceiro, às custas do próprio bem-estar. Isso pode levar a um estado de hiper-vigilância que torna difícil acessar e expressar as próprias necessidades.
Através de terapia e auto-reflexão, é possível aprender a equilibrar a natureza empática com a necessidade de estabelecer limites saudáveis. Isso significa reconhecer que suas necessidades são distintas das do seu parceiro e que é essencial expressar e atender essas necessidades para manter o equilíbrio emocional. Isso pode levar a uma conexão mais profunda e saudável, onde tanto as necessidades próprias quanto as do parceiro são atendidas.
Este processo começa com a construção de uma conexão sólida com o próprio interior. Quando estamos alinhados com nossos próprios valores e necessidades, podemos navegar melhor entre as nossas necessidades e as do parceiro. Isso nos permite saber intuitivamente quando investir no relacionamento e quando é necessário recuar para recarregar nossas energias.
Essa jornada de autodescoberta e cura não depende de estar em um relacionamento romântico. Muitas vezes, pode ser mais fácil começar esse trabalho quando estamos solteiros, pois isso nos permite focar inteiramente em nosso crescimento pessoal sem as distrações de tentar salvar ou reparar um parceiro. No entanto, não podemos forçar ninguém a se juntar a nós nessa jornada de autoconhecimento e cura.
Cada relacionamento, seja ele bem-sucedido ou não, oferece lições valiosas sobre nós mesmos e sobre o que precisamos para nosso crescimento e recuperação. Ao invés de ver um término ou um conflito como um fracasso, podemos vê-lo como uma oportunidade para parar e refletir sobre o que precisamos aprender e curar em nós mesmos.
A verdadeira transformação em relacionamentos ocorre quando aceitamos que eles são complexos e desafiadores e que nossa felicidade e segurança emocional não devem depender exclusivamente de outra pessoa. Em vez disso, ao cultivarmos nosso próprio bem-estar e segurança emocional, estamos melhor equipados para entrar em relacionamentos que são verdadeiramente enriquecedores e apoiadores, tanto emocional quanto espiritualmente.

