Simplesmente interromper toda comunicação com alguém é uma falta de consideração. Aqui está como evitar fazer ghosting com as pessoas em sua vida — e o que fazer se você foi vítima de ghosting.
O Fenômeno do Desaparecimento nas Relações: Uma Análise Profunda
Joana e Ana, ambas com 27 anos, conheceram-se num grupo de jovens da igreja e rapidamente desenvolveram uma amizade sólida. Quase todos os dias, durante um ano, compartilhavam pensamentos e sentimentos íntimos, até que, sem qualquer aviso prévio, Ana deixou de responder às chamadas e mensagens de Joana. Esse comportamento é conhecido como “ghosting”, um termo que descreve o ato de terminar toda comunicação com alguém sem oferecer qualquer explicação.
O ghosting pode ocorrer em diversos tipos de relacionamentos, incluindo parceiros românticos, amigos, colegas de trabalho e familiares. E é mais comum do que se pode imaginar. Segundo uma pesquisa realizada pela YouGov em 2019, um terço dos adultos nos Estados Unidos admitiu ter praticado ghosting em uma relação interpessoal, enquanto uma pesquisa da Indeed em 2021 revelou que 77% dos candidatos a emprego foram ignorados por um possível empregador após uma entrevista, e 18% dos candidatos admitiram ter feito o mesmo com as empresas.
Apesar de ser uma prática incrivelmente comum, isso não diminui sua rudeza ou crueldade. Segundo o Dr. Carlos Mendes, psicólogo licenciado, professor e pesquisador de relações na Universidade de São Paulo, o ghosting é uma das ações mais dolorosas que se pode infligir a outra pessoa. Não é apenas uma gíria moderna para descrever o abandono de um relacionamento; é também uma falta de etiqueta.
Ana, sentindo-se confusa e desolada, tentou várias vezes retomar o contato com Joana, até mesmo um ano após o ocorrido. “Tentei pedir desculpas por qualquer coisa que pudesse ter feito, mas nada funcionou. Desde então, não tive mais notícias dela”, explica ela. “Tive que aceitar que nunca saberia por que ela decidiu terminar nossa amizade. E posso dizer honestamente que a dor de perder essa amizade profunda foi pior do que qualquer término romântico que já vivi. Demorou muito para superar essa dor.”
O que é Ghosting — e por que é tão dificil aceitar?
Esse cenário é dolorosamente familiar. O ghosting é igualmente devastador em um contexto romântico — você pode usar as melhores frases de efeito no Tinder e organizar encontros românticos memoráveis, apenas para ter a outra pessoa parando de responder de repente. Para ajudar a lidar e entender melhor este fenômeno comum, conversamos com especialistas que explicaram tudo que você precisa saber sobre o ghosting.
De acordo com os especialistas, o primeiro passo é reconhecer que o ghosting diz mais sobre a pessoa que desaparece do que sobre a vítima. Pode ser uma indicação de que a pessoa não está pronta para lidar com a responsabilidade emocional que vem com um confronto ou uma conversa franca. Em muitos casos, quem pratica o ghosting opta por essa saída por encontrar dificuldade em expressar suas emoções ou lidar com conflitos de maneira saudável.
Além disso, é fundamental entender que, embora doloroso, o ghosting é um fenômeno que reflete as mudanças nas interações sociais na era digital. A facilidade de conexão através das plataformas digitais, paradoxalmente, também facilita o término abrupto das relações. Em um mundo onde as relações são frequentemente mediadas por telas, a falta de contato físico pode fazer com que o término de uma relação pareça menos real ou imediato, embora as consequências emocionais sejam profundamente reais.
Para aqueles que passam por essa experiência, os especialistas recomendam buscar apoio em amigos e familiares e, se necessário, apoio profissional para processar os sentimentos de rejeição e perda. É importante também investir em atividades que reforcem a autoestima e o bem-estar pessoal, como hobbies, exercícios físicos e projetos pessoais.
Por fim, manter uma perspectiva otimista é essencial. Embora o ghosting seja uma experiência difícil, ele também pode servir como um catalisador para o crescimento pessoal e o desenvolvimento de relações mais saudáveis e transparentes no futuro. Reconhecer que cada interação nos ensina algo sobre nós mesmos e sobre como nos relacionamos com os outros pode transformar a dor do ghosting em uma oportunidade de aprendizado e fortalecimento pessoal.
Desvendando o Fenômeno do Ghosting: Entendendo o Desaparecimento Silencioso nas Relações
O termo “ghosting” pode parecer moderno, mas a prática é tão antiga quanto as próprias relações humanas. “Ghosting é exatamente o que parece: desaparecer silenciosamente da vida de alguém, como um fantasma”, explica Carla Duarte, PhD, uma autora, psicóloga clínica licenciada, professora de psicologia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e especialista em relacionamentos tóxicos. “A pessoa interrompe toda comunicação, sem aviso prévio ou explicação.”
Embora o conceito não seja novo, a palavra em si é relativamente recente. Ela começou a aparecer com essa definição moderna no início dos anos 2000, e foi adicionada ao dicionário Merriam-Webster em 2017.
Embora o termo “ghosted” tenha se tornado tão onipresente a ponto de se tornar o título de um filme da Apple TV+, você também pode encontrar sinônimos de ghosting, incluindo “fadeaway” e “swerve”. (É chamado de “saída irlandesa” se você escolher “ghosting” e sair de uma festa sem se despedir.)
O ghosting é mais comum no namoro — particularmente o namoro online ou por meio de aplicativos — mas também pode ocorrer em qualquer tipo de relação interpessoal ou profissional, diz Gabriela Costa, LMFT, uma terapeuta licenciada em São José, Califórnia, e especialista em etiqueta de mídia social e relacionamentos para o aplicativo de namoro Chispa.
Por Que as Pessoas Praticam o Ghosting?
As pessoas praticam o ghosting por várias razões, explica Costa: preocupação em magoar a outra pessoa, medo de não conseguir lidar com os próprios sentimentos, desejo de evitar as consequências do término ou de seguir em frente rapidamente, embaraço ou simplesmente porque leva menos tempo do que conversar. “Ocasionalmente, alguém pode até praticar ghosting sem intenção, por ser esquecido”, ela acrescenta.
No entanto, a razão mais comum para as pessoas irem incommunicado é simplesmente porque é mais fácil do que ter uma conversa difícil.
“Muitas pessoas não foram ensinadas sobre como é uma comunicação adulta saudável em relacionamentos, então elas optam pela saída mais fácil — o ghosting”, diz Duarte. Basicamente, elas nunca aprenderam a etiqueta para discutir assuntos potencialmente dolorosos, ou não sabem como dizer não, então simplesmente param de falar, ela explica.
Impacto Emocional do Ghosting
O impacto emocional do ghosting pode ser profundo. Quando alguém desaparece sem explicação, pode deixar uma marca significativa na autoestima e na confiança da pessoa que foi “fantasmada”. A incerteza e a falta de fechamento podem gerar especulações e dúvidas intermináveis, o que é especialmente doloroso.
Estratégias para Lidar com o Ghosting
Para aqueles que foram vítimas de ghosting, é crucial desenvolver estratégias de enfrentamento. A primeira etapa é reconhecer que a decisão de praticar ghosting diz mais sobre a incapacidade da outra pessoa em lidar com situações difíceis do que sobre qualquer deficiência pessoal daqueles que foram deixados para trás. É importante se cercar de amigos e familiares que possam oferecer apoio e compreensão durante esse período.
Adicionalmente, buscar atividades que fortaleçam a autoestima pode ser extremamente benéfico. Seja através de hobbies, exercício físico ou terapia, encontrar maneiras de se valorizar pode ajudar a curar as feridas deixadas pelo ghosting.
Educação e Prevenção
Promover uma maior conscientização sobre as consequências do ghosting é essencial. A educação sobre comunicação saudável em escolas, universidades e até mesmo no local de trabalho pode preparar melhor as pessoas para lidar com as complexidades dos relacionamentos modernos. Ensinar habilidades de comunicação eficaz e como manejar conflitos de forma construtiva pode reduzir a incidência de ghosting.
Finalmente, o fenômeno do ghosting nos desafia a olhar para nossas próprias práticas de comunicação e considerar como podemos melhorar as interações com aqueles ao nosso redor. Ao enfrentar e discutir abertamente esse comportamento, podemos aspirar a um ambiente social mais empático e responsável.
